Por Rosildo Rosário
Fotos: Reinilson Rosário
No último dia 11 de fevereiro de 2019 o governador do Estado da Bahia assinou o decreto de nº 18.905 que, em seu artigo 1º reza: “Fica registrado no Livro de Registro Especial de Expressões Lúdicas e Artística as Cheganças, Marujadas e Embaixadas”.
Foram muitos os esforços de todos os envolvidos. Iniciamos os trabalhos em 04 agosto no ano de 2013, ocasião da realização do I Encontro de Cheganças da Bahia na cidade de Saubara. Éramos 3 grupos de Saubara, 2 de Camaçari (Arembepe) e 1 de Jacobina, Taperoá e Cairu. Ser reconhecido como Patrimônio Cultural é ser desafiado a continuar uma luta ancestral, é reforçar o pertencimento, é também reconhecer os novos tempos, entender as nossas responsabilidades com o bem cultural ao qual pertencemos e estarmos mais conscientes ao cobrar dos nossos pares que cumpram com as suas. Ser reconhecido como patrimônio é compreender a importância que temos para a construção de uma consciência coletiva, reforçando a cada instante nossa identidade a partir daquilo que produzimos com a força e resistência de bravos. Novos desafios se apresentam e, a partir de agora, precisaremos cada vez mais estar juntos para garantir vida longa à nossa tradição. Vamos, coletivamente, construir um sólido plano de salvaguarda para nos orientar como prosseguir.

Como parte desse processo iniciado em 2013, realizamos a partir de meados de 2017 a meados de 2018 um inventário que nos revelou a existência de 21 grupos ativos, em 14 municípios de 8 territórios de identidade:
• Extremo Sul (Alcobaça, Caravelas e Prado) grupos ( Embaixada de Caravelas, Marujada de Prado, Embaixada de Prado, Marujada de Alcobaça e Embaixada de Alcobaça);
• Região Metropolitana de Salvador (Camaçari) grupos (Chegança Feminina de Arembepe e Chegança Masculina de Arembepe);
• Recôncavo (Saubara) grupos (Chegança dos Marujos Fragata Brasileira, Chegança Feminina Barca Nova e Chegança dos Mouros Barca Nova);
• Piemonte da Diamantina (Jacobina) grupo ( Marujada de Jacobina);
• Baixo Sul (Taperoá e Cairu) grupos ( Chegança de Taperoá e Chegança de Cairu);
• Chapada Diamantina (Andaraí e Lencóis) grupos ( Marujada do Espirito Santo de Andarai, Marujada de Lençóis e Marujada de Remanso – Lençóis);
• Sertão do São Francisco (Curaçá) grupo (Marujada de Curaçá);
• Velho Chico (Sitio do Mato, Bom Jesus da Lapa e Paratinga) grupos (Marujada de Mangal- Sitio do Mato, Marujada de Paratinga e Marujada de Bom Jesus da Lapa).
Esse processo, revelou para nossa tristeza, que mais de 50 grupos deixaram de existir. Mas essa descoberta nos impulsiona a continuar nesse navegar em busca de novos portos. Este reconhecimento significa a abertura de novos tempos. Assim como os marujos estão em alto mar, vislumbra o horizonte, o registro como Patrimônio Imaterial, inaugura os caminhos de uma nova história, quando podemos contar com nossa própria voz e nosso próprio corpo. As gerações futuras saberão de nós, não ficaremos mais escondidos no folclore, nosso grito ecoará pelos becos e mares do mundo.
Se cada qual é para o que nasce, a Marujada surge para compor a história da Bahia. A sala é a rua e a história passará diante dos olhos, como se o mar fosse ali. “vamos remando que é para vencer, bela viagem haveremos de ter”. Êta, Marujada!
Saubara, 13 de fevereiro de 2019.