O I Encontro de Cheganças da Bahia começou hoje, dia 2 de agosto, dizendo, e muito, a que veio. Os mestres e mestras dos sete grupos de Chegança ou Marujadas reunidos na sede do grupo Chegança dos Marujos Fragata Brasileira, em Saubara, embalaram a tarde com uma roda de conversa descontraída.
Mas o papo foi sério. E eles, reunidos assinaram juntos o ofício para encaminhar ao IPAC, solicitando a abertura do processo de avaliação dos grupos de Chegança e Marujada para seu possível reconhecimento como Patrimônio Cultural da Bahia, inscrito no Livro do Registro Especial das expressões Lúdicas e Artísticas.
Rosildo do Rosário, coordenador do grupo Fragata Brasileira, hoje com 36 anos, saiu na Fragata pela primeira vez aos 3 anos. Conheceu outros grupos de Marujada quando participou do vídeo documentário Marujadas, de Josias Pires, realizado pelo Governo do Estado da Bahia.
Os intercâmbios de saberes somados à sua experiência com o processo de reconhecimento do Samba de Roda como patrimônio imaterial o levou a buscar os meios de organizar esse mesmo processo com as Cheganças da Bahia.
Os mestres e mestras pela primeira vez reunidos narraram seus percursos e contaram com o apoio de pesquisadores que há muito tempo acompanham suas caminhadas, como é o caso de Josias Pires (autor do documentário Marujadas) e Ralph Wader (que está organizando o seu acervo próprio sobre manifestações populares do Recôncavo Baiano).
Para Wader, qualquer manifestação desse tipo é uma declaração de quem somos e reconhece no movimento inaugurado hoje uma importante afirmação disso.
“Conheci Rosildo como Calafatinho e a manutenção do seu nexo com a Marujada demonstra que isso é uma construção que vem de dentro de casa”.
Dona Joselita, tia de Rosildo, lembra que foi muito difícil enfrentar os preconceitos quando decidiu se dedicar à Marujada. “Fui muito criticada aqui em Saubara e fui muito ajudada por Ralph, Fred Souza Castro, Cid Teixeira e outros que me ajudaram a levar a Marujada para Salvador. Hoje Rosildo está na luta para levar esse trabalho adiante. Os jovens já não se interessam por essa movimentação, então esses coroas precisam aguentar por mais tempo para que isso não morra”.
Juntos assinaram a ata da reunião e o ofício para encaminhar aos órgãos responsáveis:
José Alves de Jesus, conhecido como Djalma, Chegança de Mouros Barca Nova de Saubara, Elisabete de Souza, 70 anos, Chegança de Mouros Feminina de Arembepe, José Carlos Silva de Paula da Chegança Marujada de Jacobina, Antonio Borges Nascimento, Chegança Marujada de Cairu, Luis Fernando dos Santos e Roque Antonio da Silva, Chegança dos Marujos Fragata Brasileira, Aurelita Rocha de Jesus e Tania Regina da Silva Santos, Chegança Feminina de Mouros Barca Nova.
O Encontro de Cheganças é uma realização da Associação de Chegança dos Marujos Fragata Brasileira, com financiamento do Governo da Bahia/Fundo de Cultura/Edital Demanda Espontânea e apoio de Petrobras, Casa do Samba Sambadeira Frazinha, Prefeituras Municipais de Saubara, Jacobina, Camaçari, Cairu, Colônia de Pescadores Z-16, IPHAN, Fundação Cultural, ASSEBA, Centro de Culturas Populares e Identitárias.