Author Archives: Fragata Brasileira

Tecendo Redes

Durante os meses de janeiro e fevereiro, as Cheganças, Marujadas e Lutas de Mouros e Cristãos vão às ruas em 14 cidades da Bahia, respeitando todo o protocolo de proteção contra a Covid-19.

No 31 de dezembro aconteceu a tradicional saída da Marujada de Curaçá. Nesse final de semana, dia 9, é o momento de Jacobina, na Praça da Missão. Já no domingo, dia 10, a Chegança de Cairu alegra seu povo e a Marujada da Chegança se apresenta em Bom Jesus da Lapa.

Nas próximas semanas acontecerão as apresentações da Marujada do Mangal (Sítio do Mato), Lutas entre Mouros e Cristãos (Caravelas, Prado e Alcobaça), Marujada de São Benedito (Paratinga), Chegança de Mouros de Taperoá, Marujada do Divino Espírito Santo (Andaraí), Marujada Barcas em Rios (Lençóis) e a Marujada de São Benedito, também do Prado.

Esse ano, as apresentações acontecem no contexto do Projeto Tecendo Redes com o apoio financeiro do Estado da Bahia por meio da Secretaria de Cultura e do Instituto do Patrimônio Artístico Cultural –IPAC (Programa Aldir Blanc Bahia) via Lei Aldir Blanc, direcionada pela Secretaria Especial da Cultura do Ministério do Turismo, Governo Federal.

As Cheganças, Marujadas e Luta de Mouros e Cristãos são inscritas no Livro de Registro Especial de Expressões Lúdicas e Artísticas da Bahia. Isso as torna Patrimônio Imaterial da Bahia.

O Projeto Tecendo Redes busca valorizar e celebrar esse patrimônio que faz parte da vida de seus integrantes há muitas gerações. As ações do projeto colaboram também para a promoção, divulgação e valorização dos grupos junto ao público mais amplo, local, nacional ou internacional.

VII Encontro de Cheganças, Marujadas e Embaixadas da Bahia

 

Um barco que é feito de canto

Seu leme é pandeiro

Seu mar é teu pranto

Navega nas águas da saudade

Ancestralidade

Nos Rios e Mares da Eternidade.

Jarbas Farias

Associação Chegança dos Marujos Fragata Brasileira realizou no ano de 2013 o I Encontro de Cheganças da Bahia na cidade de Saubara no Recôncavo da Bahia. Na ocasião da realização deste encontro todos os membros participantes decidiram por um encaminhamento do pedido de reconhecimento das Cheganças e Marujadas como Patrimônio Cultural do Estado. Este encontro que contou com a participação de oito grupos, além de representações de Universidades Públicas, Pesquisadores, Representantes de órgãos do governo Municipais, Estadual e Federal. Encaminhamos a solicitação para o IPAC no mesmo ano e durante os anos seguintes diversas ações foram realizadas em prol do reconhecimento dentre elas, destaco a realização dos encontros estaduais, que em 2019 está em sua sétima edição.

 Em 2018 realizamos o inventário dos grupos existentes na Bahia um ano  percorrendo os mais distantes lugares na busca de informações sobre essas manifestações foram 14 municípios como (Caravelas, Alcobaça, Prado, Camaçari, Saubara, Jacobina, Taperoá, Cairu, Andaraí, Lençóis, Bom Jesus da Lapa, Sítio do Mato, Paratinga e Curaçá) que se distribuem 8 territórios de identidade (Extremo Sul, Região Metropolitana de Salvador, Recôncavo, Piemonte da Diamantina, Baixo Sul, Chapada Diamantina, Velho Chico e Sertão de São Francisco) encontramos os mais diversos grupos que se completam em suas particularidades.

A sétima edição do Encontro vem para solenizar a conquista entre os 20 grupos em atividades, dos quais 15 trarão para as ruas de Saubara em um momento ímpar todo encanto e valor cultural dessa manifestação.  Em outras 27 localidades foi identificado que já existiu essa manifestação cultural, a consciência é de que não foi possível chegar em todos os lugares, e que possivelmente outros grupos possam existir e estarem em plena atividade, a intenção é aumentar os dados a partir de novos contatos. Para os membros dos grupos receber o título de Patrimônio Imaterial da Bahia é um marco histórico que vislumbra outros horizontes levados pelos nossos saberes e fazeres.

As Marujadas, Cheganças e Embaixadas da Bahia celebram a conquista do Reconhecimento pelo título sob o Decreto nº 18.905 de 11 de fevereiro de 2019 que averba no Livro de Registro Especial de Expressões Lúdicas e Artísticas as Cheganças, Marujadas e Embaixadas do Estado da Bahia, como Patrimônio Imaterial da Bahia.

“ Importante salientar a participação do IPAC em todo processo, um parceria que proporcionou uma tomada de consciência maior entre nós dos grupos. A Patrimonialização de uma manifestação cultural revela o caráter social existente entre os mais diversos atores. Seguiremos cada vez mais buscando entender o que é ser um bem registrado e cada dia estaremos mais próximos”.                                              

                                                                                                     Rosildo do Rosário

PROGRAMAÇÃO

Dia 02 de agosto de 2019

18h – Reunião da Rede de Cheganças, com representantes dos grupos de cheganças da Bahia e comunidade em geral. Local Sede da Chegança Fragata Brasileira.

19h – Exibição do documentário sobre o inventário dos grupos de Cheganças, Marujadas e Embaixadas da Bahia.

Dia 03 de agosto de 2019.

 Local: Galeria Saúva

9h – Reunião entre as lideranças das Cheganças e representantes do Estado.

Mesa 1 – O que é a Patrimonialização e para que serve.

15h – Desfile dos grupos Saindo da rua da rocinha

17h – Apresentação dos grupos no espaço municipal de evento.

Dia 04 de agosto de 2019

11h – Apresentação do Grupo Chegança Fragata Brasileira na Missa de São Domingos.

Local: Igreja Matriz e ruas da cidade

Serviço:

O que?

Encontro de Cheganças, Marujadas e Embaixadas da Bahia.

Quando?

Dias 2, 3 e 4 de agosto de 2019

Onde?

 Saubara – Bahia

NOSSA HISTORIA NOSSA IDENTIDADE – REVITALIZANDO A MARUJADA

Premiado no EDITAL DE SELEÇÃO PÚBLICA Nº 01, DE 26 DE ABRIL DE 2018 CULTURAS POPULARES: EDIÇÃO SELMA DO COCO – MINISTÉRIO DA CULTURA DA CIDADANIA E DA DIVERSIDADE CULTURAL. Tem como objetivo realizar:

• SEMINÁRIO SOBRE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL;

Palestrante 1: DINHO DINIZ – Escultor e Restaurador de Patrimônio Tombados e Edificados.
Tema: Patrimônio Cultural Material

Palestrante 2: ROSILDO DO ROSÁRIO – Mestre da Chegança dos Marujos Fragata Brasileira de Saubara e Coordenador da Rede de Cheganças e Marujadas da Bahia.
Tema: Patrimônio Cultural Imaterial (indagável)

Mediador do Seminário: João Pereira de Souza Filho – Educador, Militante Cultural, Assessor Cultural, Cantor e Compositor.

Atração Artística: Samba de Roda

Data: 08/06/2019
Local: CTL da Igreja de Santo Antonio
Horário: 8:00 hs

• I ENCONTRO DAS MARUJADAS E CHEGANÇAS DO TERRITÓRIO VELHO CHICO;

Estarão presentes o grupo da Marujada de Chegança – Bom Jesus da Lapa/BA, Chegança dos Marujos Fragata Brasileira – Saubara/BA, Marujada do Mangal Barro Vermelho – Sitio do Mato/BA e a anfitriã Marujada do Divino Espírito Santo – Paratinga/BA.

Data: 08/06/2019
Local: Saída do Cortejo da Praça da Bandeira no Tomba
Horário: 17:00 hs

APOIO CULTURAL

Governo Municipal de Paratinga – BA
Secretaria de Cultura e Promoção da Igualdade Racial
Secretaria Municipal de Educação
Assessoria de Comunicação
Paróquia de Santo Antonio
Rede das Marujadas e Cheganças da Bahia
Governo Municipal de Saubara – BA
Governo Municipal de Bom Jesus da Lapa – BA
Governo Municipal de Sitio do Mato – BA

PACEIROS(A) CULTURAIS:

Jaysa Rocha
Ivoneth Galvão
Dr. Erico Brandão
Vereador Toge
Dra. Amenaide
Paulo Rego

REALIZAÇÃO: Marujada do Divino Espírito Santo de Paratinga
PROPONENTE: Mestre Antonio Damião
COORDENADOR: Uilian Bispo

V Mostra do Samba de Saubara

A V Mostra do Samba de Saubara em 2019 homenageia três mestre do Samba de Roda que muito contribuíram para preservação desta manifestação. Um singelo reconhecimento da comunidade do Samba para Jelita, Vortinha e Lori.

Jelita – Samba das Raparigas
Filha e Oxum, carregava todas as suas características e funções. O rio era seu lugar preferido na água doce era seu lugar preferido. Com amor exagerado acolhia intimamente todos que se aproximava, sua beleza revelava a face mais atraente de sua orixá. De um jeito bastante peculiar
ajeitava tudo com palavras e ações de uma grande líder e quando vestia amarelo era ela a dona da riqueza. Nasceu no Catu uma comunidade formada por negros que fugiram da escravidão dos arredores de Cachoeira e de Santo Amaro. Desde cedo trabalhava na agricultura e pesca para
ajudar na criação de seus irmãos. Cresceu numa família rasteira e festejar era o que sabia fazer de melhor. Samba de Roba, Cheganca, Terno de Reis, Reisados, Ranchos, Bumba-Meu-Boi, Cantiga de Roda, Capoeira. Tudo isso era de seu universo. Foi dançarina do lendário grupo Cultural de Mestre Bimba, Madrinha da Cheganca Fragata Brasileira de Saubara, foi uma das
Mestras que colaborou com o processo de Registro Do Samba de Roda Obra Prima Da Humanidade, tema de diversos trabalhos acadêmicos (Katharina Doring, Claudia Lora), gravou dois CDs com o grupo Samba das Raparigas, participou dos documentários Cantador de Chula e Mulheres do Samba, foi uma das Mestras citadas no catálogo Sambadores e Sambadeiras da Bahia, citada na revista Afro-Brasilian Percussion Guide. Foi uma das Mestres que contribuiu e participou do Projeto de registro das Chegancas de Saubara “Eta Marujada”. O que seria da Marujada Saubara se não tivesse a participação de Jelita, como Exu abriu os caminhos dando ao grupo a visibilidade que hoje desfruta. No Samba de Roda cantava como se tivesse me dando um recado, melhor me dava sempre a mesma lição ” POR CIMA DO MEDO, POR CIMA DO MEDO, CORAGEM”. E é assim que sigo. Na rede do Samba era a referência de nossa comunidade para o mundo, com brilhantismo criou o Samba Mirim da Vovó Sinhá, destaque no meio cultural, incentivou a criação da Cheganca Mirim o que nos rendeu dois prêmios (Ministério da Cultura- Ponto de Memória e Secretaria de Cultura do Estado da Bahia- Pontinho de Cultura) Recentemente foi uma das 16 mulheres pesquisadas e teve uma pequena mas, valiosa parte de sua vida contada no material “MULHERES DO SAMBA DE RODA” um projeto que
tive a honra de coordenar juntamente com Luciana Barreto, o material mais importante que conseguir produzir nesses anos. Fica registrado sua opinião sobre problemas sociais graves de nossa sociedade. Saubara perde uma de suas grandes referência como Agente Cultural, Mulher Negra, Yalorixa, Mestra da Cultura Popular. Hoje fica tudo mais alegre no céu com Jelita é diversão na certa. Vai para sempre uma pessoa que só nos deixa momentos bons na lembrança.

Vortinha – Samba Raízes de Saubara
Vortinha, nasceu no dia 01 de março de 1959 e dez dias após completar seu 60 anos, ele nos foi arrancado de forma violenta. O Samba de Roda de Saubara sangrou quando soubemos da notícia de sua morte, foi atingido por tiros em sua residência na roça onde morava. A cultura popular sendo alvo da violência que assola os dias atuais. Antonio Carlos dos Santos era seu nome de batismo, uma das atuais referências do Samba de Roda de Saubara, colaborou fortemente para o desenvolvimento do plano de Salvaguarda do Samba, nos ensinou a cantar chulas, relativos, sambas corridos. Seu repicar de pandeiro jamais será ouvido mesmo que um daqueles que com ele aprendeu tente o imitar. Aprendeu a sambar com seus pais que desde cedo o levava para as rezas e carurus de São Cosme e Damião. Vortinha também era membro da Chegança dos Marujos Fragata Brasileira, tanto na chegança quanto no Samba era dono de uma voz diferenciada. Inicialmente era membro do Grupo de Samba das Raparigas e com todo a movimento que ocorreu com o Samba a partir de seu reconhecimento como Patrimônio da Humanidade criou o Grupo de Samba Raízes de Saubara. Com o Samba de Roda participou como mestre da Cartilha do Samba Chula, participou da gravação do primeiro CD do grupo das Raparigas, gravou o CD do grupo Raízes de Saubara e gravou para o projeto Mestre Navegantes, com a Chegança participou de inúmeros projetos dentre a gravação do CD do grupo, participou do catálogo e documentário Êta Marujada e também no Projeto Mestres Navegantes.

Mestre Lori – Samba das Raparigas
Florisvaldo Santos Vieira mais conhecido na comunidade como Lori, nasceu no ano de 1935 no distrito de São Tiago do Iguape município de Cachoeira, filho de Seu Inocêncio e Dona Maria Simão, sua infância foi vivida na roça uma localidade chamada Catu (um quilombo) onde inúmeras famílias se constituíram durante o período da escravatura, fugindo dos engenhos dos arredores de Santo Amaro e Cachoeira. Como quase todos que viviam no Catu sua família também migrou para Saubara onde ele constituiu família, teve quatro filhos dentre eles Professor Domingos Vieira o popular Reggo. Durante sua vida teve várias atividades, comerciante,
pescador, apicultor, mas foi a agricultura sua principal atividade. Seu envolvimento com o Samba de Roda acontece desde cedo, pois é descendente de uma família tradicional, seu pai era um exímio violeiro e animava as rodas de Samba na Saubara de outrora. Lori tocava um pandeiro de forma peculiar era adepto do Samba de Parada cantava uma chula como ninguém gostava de machucar no seu cantar:
 

Ê galo teimoso
Que canta fora de hora,
Galo não monta cavalo
Pra que galo quer espora?

Da boca a fora
Todo mundo quer dizer,
Mas o método do Samba
Ô rapaz
Você tem que aprender.


Lori participou da Gravação do cd do Grupo Samba das Raparigas no projeto Sambadores e
Sambadeiras da Bahia. Estava sempre disposto à um Samba. Contava suas histórias vividas na
roça com a alegria de quem encontrara no Samba sua maior felicidade.

Jelita, Vortinha e Lori  se juntam a outros Sambadores e Sambadeiras de Saubara (Frazinha, Deco, Branca, Mundinho, Sinhá, Mário, Marcelo, Valentin, Janinha, Lourenço, Dijão, Ticande, Tatu, Rola, Gazimira, Nenem), que também partiram para o Orum e de lá nos veem Sambar. E se tem animação no Orum é o Samba feito por eles e elas.

Onde está nossa arma?

Por Zinoel Fontes

Hoje o dia nasceu escuro em nossa terra, pois a alegria da nossa Cultura de Vida Social está sendo transformada em um sentimento de impotência ante a barbárie que nos ronda.

Todas as perguntas que pensamos nos remetem à tristeza e a dor. Posso dizer que: quem nas próximas semanas irá se atrever a cantar um samba de Raízes de Saubara e não ficar triste com a falta de resposta na Vortinha da outra Parea? E se esse Samba for um Arma na Hora que nos faz sentir a emoção de ver todos os elementos bem afinados? No canto, no pandeiro, no corpo e nos pés bem miudinho?

Ainda tem os que apreciam a Fragata, os que se sentiam órfãos por saberem que nosso Marujo escolheu viver em meio ao Rio das Pratas e assim participar apenas no 04 de agosto em Saubara. Agora se sentem órfãos de pai e mãe.

Acho que por isso não seria apropriado a Farda da Fragata. Visto que nas próximas apresentações a dor seria maior.

Como superar isso? Poderia dizer várias formas, porém no final iria reconhecer que não se supera dores PROFUNDAS. Esse tipo de dor aprendemos a conviver.

Pois sempre iremos lembrar das voltinhas que o mundo dará em nós quando a violência nos deixar uma cadeira vazia, um pandeiro mudo, um lugar vago no ‘cordao’…

Isso significa que não há esperança?
Não.

Significa que somos filhos das águas e como tais sempre iremos tomar um novo fôlego antes do próximo mergulho… sempre iremos nos revezar no remo… sempre iremos mudar a posição das velas quando o vento inverter a direção…

Pois nossa arma é outra…
Nossa arma produz sorrisos que brotam do coração dos amantes da vida… Nossa arma contagia o outro no ato da umbigada… Ela nos reconecta aos nossos antepassados quando entendemos que a nossa vida tem que ser a continuação do trabalho deles e percebemos que não podemos fazer menos do que eles fizeram…

Onde está nossa arma?
Na FORÇA da RESISTÊNCIA, pois nos faz desenvolver estratégias de sobrevivência e efetuar conquistas com as PALAVRAS CANTADAS em nossas Manifestações de Cultura da Vida.

Exatamente há um mês VORTINHA se tornou IMATERIAL e há um dia ele virou IMORTAL.