Venha para a maior festa de Cheganças da Bahia

O VI Encontro de Cheganças da Bahia acontece no município de Saubara nos dias 4 e 5 de agosto de 2018. Estarão se apresentando pelas ruas de Saubara 13 grupos de Cheganças e Marujadas da Bahia. É uma oportunidade de conhecer e valorizar as “Cheganças”, como bem cultural baiano.

Esse encontro é uma grande celebração cultural que coloca em cena uma importante amostra dessa manifestação popular bicentenária, que ganhou diferentes expressividades nos diversos territórios de identidade baianos.

Além da apresentação pública dos grupos, o Encontro de Chegança da Bahia é um importante espaço de diálogo entre os agentes fazedores de cultura e os promotores, principalmente o estado. Cada agente envolvido compreende melhor o seu papel no movimento político cultural, fortalecendo as identidades dos grupos populares.

Estarão presentes 13 grupos das cidades de Arembepe, Saubara, Taperoá, Cairu, Andaraí, Lençóis, Remanso, Paratinga, Curaçá e Jacobina e ainda representantes dos grupos das cidades Caravelas, Mangal, Alcobaça, Barra, Subaúma e Prado.

O VI Encontro de Cheganças da Bahia é uma realização da Associação Chegança dos Marujos Fragata Brasileira, em parceria com as prefeituras municipais dos grupos envolvidos.

 

PROGRAMAÇÃO

04 de agosto de 2018 (sábado)

4 horas, na ‘madrugada’
Bando anunciador e Alvorada
Pelas ruas da cidade

8h – Recepção às lideranças dos grupos visitantes
Café da manhã
Local: Sede da Chegança Fragata Brasileira

11h – Apresentação do Grupo Chegança Fragata Brasileira na Missa de São Domingos.
Local: Igreja Matriz – Paróquia de São Domingos de Gusmão

18h – Reunião da Rede de Cheganças, com representantes dos grupos de cheganças da Bahia e comunidade em geral.
Local: Sede da Chegança Fragata Brasileira

Dia 05 de agosto de 2018 (domingo)

9h – Mesa: Vamos remando que é para vencer!
Reunião entre as lideranças das Cheganças e representantes do Estado
Local: Galeria Saúva

15h – Desfile dos grupos
Local de saída: Rua do Lavador

17h – Apresentação dos grupos na Rua da Amendoeira
19h – Encerramento

O Projeto

É especial para a Associação Chegança dos Marujos Fragata Brasileira comemorar seus 40 anos de atividades, realizando em Saubara esse VI Encontro de Cheganças da Bahia. Comemora oferecendo à sua cidade o grande espetáculo que é ir às ruas para saudar São Domingos de Gusmão no dia 4 de agosto – sua data de tradição – junto com outros 13 grupos cheganceiros que estendem a festa até o dia seguinte.

Em sua incansável busca por ocupar o lugar merecido no cenário das manifestações populares na Bahia é que as Cheganças chegam a Saubara para a sexta edição do seu Encontro anual.  Esses grupos apresentam diferentes características nas diversas comunidades em que aparecem. Todos trazem memórias de acontecimentos de grande importância para a construção das narrativas históricas do nosso estado. Alguns contam histórias referenciadas nas lutas medievais entre Mouros e Cristãos, outros encenam passagens das guerras de independência da Bahia e louvam os santos católicos.

Com programação aberta a todos os interessados, o VI Encontro de Cheganças da Bahia visa o fortalecimento e envolvimento das comunidades   do   Recôncavo   Baiano   e   afirma-se como momento relevante de trocas de saberes e registro da memória da cultura popular. O público da Bahia e do Brasil tem, neste evento, a oportunidade de compreender, conhecer e valorizar as “Cheganças, marujadas e Embaixadas” como bem cultural que tão bem representa a história da Bahia.

Por isso é que cabe festejar outra grande conquista neste ano de êxitos que é a realização do Dossiê Etno Histórico das Cheganças e Marujadas da Bahia, último passo para a inscrição definitiva dessa manifestação no Livro de Registro Especial das Expressões Lúdicas e Artísticas do Estado da Bahia.

Com muita honra a Associação Fragata Brasileira apresenta os convidados para a sua festa de 40 anos, os membros da Rede de Cheganças e Marujadas, os grupos de ‘marujeiros’ e ‘cheganceiros’ que há séculos imprimem sua marca nos desenhos identitários do estado da Bahia.

Saubara

Chegança dos Marujos Fragata Brasileira

… vamos companheiros, vamos lá chegar, leva essa bandeira lá em Pirajá…

A Fragata Brasileira conta a história de um grupo de marinheiros que participam das lutas pela independência, protegendo a Baia de Todos os Santos contra invasores. Referências trazidas nas músicas evidenciam forte relação com a história da independência oficialmente contada.

Os cânticos e a movimentação cênica embalam o público em sentimentos como a saudade da mulher amada por conta da partida para o mar; força e esperança para enfrentar o inimigo; êxito e gratidão pelas vitórias e o retorno ao lar e à terra amada. O ritmo das marchas é dado pelos pandeiros, confeccionados artesanalmente em Saubara e tocados por todos os marujos do ‘cordão’.

Após conquistar a vitória, é feita uma reverência na igreja como agradecimento a São Domingos de Gusmão, que é o padroeiro da cidade. (…) Chegamos amigos, chegamos, com gosto e contentamento, vamos fazer reverência, ao Divino Sacramento (…) diz a canção que evidencia importante relação com a religiosidade.

É um grupo composto por homens adultos e algumas crianças. Como na maioria das Marujadas, suas vestimentas imitam o fardamento da marinha. É divertido quando encenam desentendimentos entre os marujos e seus superiores, as chamadas ‘rezingas’ ou reclamações.

Os oficiais, além das vestimentas diferenciadas, usam espadas que saem da bainha uma única vez, no momento do combate, quando executam uma coreografia – o bailado. Esse é um ponto alto da apresentação.

Chegança de Mouros Barca Nova

Esta Chegança apresenta uma disputa entre mouros e cristãos (os marujos portugueses) há mais de 100 anos, em Saubara. Parte da apresentação é cantada, ao ritmo dos pandeiros, com trechos falados, lembrando um teatro de rua. Além dos marinheiros e dos representantes da ‘corte vermelha’ os infiéis, não batizados, esse grupo apresenta uma curiosidade entre seus personagens que é a presença de um oficial do exército, convocado para enfrentar o filho do imperador turco num duelo de espadas. Estão presentes os cânticos de saudade e de louvor a São Domingos de Gusmão.

Chegança Feminina Barca Nova

Este grupo reinventou a tradição das Cheganças em Saubara que até então só permitia a participação de homens. Mulheres de diversas idades mostram um belo exemplar deste ‘teatro embarcado’ em que as disputas entre mouros (a corte da Mauritânia) e os cristãos (marujas portuguesas) é narrada por um destacado coro de vozes femininas. Com exceção das oficiais de alta patente, que levam espadas e usam fardamento diferenciado, todas as demais usam roupas de marinheiras e tocam pandeiros. Elas posicionam-se em duas filas paralelas, o chamado cordão, que formam o contorno de um barco e saem às ruas de Saubara no dia 4 de agosto, quando participam da festa do padroeiro da cidade, São Domingos de Gusmão.

Camaçari

Chegança de Mouros de Arembepe

Na Chegança de Mouros de Arembepe, os personagens, tripulantes da marinha com diferentes patentes, contam parte da história vivida na época da invasão portuguesa, das guerras de religião e das grandes embarcações piratas. Esses, representando os cristãos, lutam contra os Mouros dentro de uma embarcação em alto mar, utilizando a música e a dança – ao som dos pandeiros – como recursos artísticos. O grupo, formado por homens, está em atividade há mais de 60 anos e não tem uma data fixa de apresentação. Participa da festa do Padroeiro São Francisco de Assis, dia 4 de outubro e de outras festas na cidade.

Chegança Feminina de Arembepe

Fundada em 2002 a Chegança Feminina de Arembepe é uma das únicas duas na Bahia, formadas exclusivamente por mulheres. Foi criada por iniciativa de um grupo da terceira idade. As marinheiras encenam a chegada dos portugueses no Brasil. Nas tentativas de vinda de Portugal para o Brasil um barco ficou à deriva. Houve uma batalha entre os portugueses e os turcos, daí os portugueses venceram a batalha e chegando ao Brasil foram comemorar. Junto com o coro de vozes, tocam pandeiros e cantam músicas que narram esta trajetória num bailado que imita o balanço do mar.

Cairu

A Chegança de Cairu, formada por homens adultos e crianças, atua entre os dias 26 de dezembro e 6 de janeiro, quando a pequena Cairu está sob o comando do Reinado de São Benedito. Participa dos festejos para o Santo e em suas evoluções pelas ruas, sem uma estrutura dramática definida, apresenta danças e cânticos que remetem às grandes navegações portuguesas. Destaca-se a sonoridade dada pela presença de duas cornetas de plástico que o mestre e o contramestre sopram, seguindo o ritmo dos pandeiros, tocados por todos os demais integrantes.

Jacobina

O tilintar das castanholas e a melodiosa viola, somados aos pandeiros, conferem uma sonoridade peculiar à encenação da Marujada de Jacobina. São homens que se caracterizam como marinheiros de diversas patentes e narram suas aventuras de sobrevivência nas travessias marítimas. Louvam São Benedito a quem está relacionada toda a sua simbologia de origem, pois era o Santo devotado pelos negros às escondidas dos coronéis da mineração. A segunda-feira após o domingo de pentecostes, dia dedicado a esse Santo, é a principal data da sua apresentação.

Lençóis

A Marujada Barcas em Rios tem sua origem ligada aos movimentos do garimpo na região. O grupo que se apresenta na festa do Padroeiro Senhor Bom Jesus dos Passos recebeu influências da Marujada de Andaraí e logo ganhou corpo e contornos particulares de Lençóis. Sua forma de atuação comunitária vislumbra a inserção na sociedade. É o espaço do lazer, da articulação com a Igreja e da diversão. Depois de um período inativa, retomou seus ensaios em 2015 e é composta em sua maioria por crianças e adolescentes, meninas e meninos. O entusiasmo dos pequenos marinheiros é visível no vigor com que dançam sem perder o ritmo da batida da caixa e dos pandeiros.

Remanso (Lençóis)

A Marujada Quilombo Remanso conta a história da chegada dos portugueses no Brasil. É uma representação teatralizada com homens e mulheres vestidos de marinheiros e oficiais. Eles tocam um tamborzinho artesanal – a caixa, pandeiros e levam um pequeno pedaço de madeira. O atual Mestre, Aurino Pereira, era o ração, única criança do grupo, quando João Pereira, sob influência do primo Manezinho do Remanso, foi aprender a fazer marujada com o mestre Ceciliano, de Lençóis, em torno de 1949. Desde então, o grupo se apresenta em festas e eventos populares nas cidades.

Taperoá

A Chegança de Taperoá apresenta a saga do mouro argelino numa disputa religiosa em que a vitória dos cristãos é simbolizada pelo batismo do mesmo em nome do senhor Jesus Cristo. Ele ressuscita depois de morto por aceitar a lei e a fé crista. São os marinheiros que contam a história, um grande enredo, cantado e falado, com estrutura dramática bem definida. É como se estivessem embarcados, em alto mar. Os pandeiros e o apito do mestre são utilizados para marcar o ritmo, seguido de um pujante coro de vozes.

Andaraí

A Marujada de Andaraí foi criada em menção à Escola de Sagres e às conquistas de Portugal. A apresentação tradicional do grupo ocorre durante a Festa do Divino, quando acompanha o cortejo religioso com seus cânticos de mar e de guerra. Os marujos desenvolvem também coreografias ao que chamam Chegança de Marujos. A dança é representada por um grupo de homens vestidos de branco e azul, que saem como marujos, general e capitão. Desfilam pela cidade, cantando e dançando músicas relacionadas ao mar e às batalhas portuguesas. Além do coro de vozes, sua sonoridade é dada apenas pelos pandeiros.

Curaçá

A Marujada de Curaçá apresenta-se no dia 31 de dezembro, em louvor a São Benedito. O front do cortejo é composto pela pessoa que toca a viola –  atualmente uma mulher – e pelos mestres que tocam pandeiro e iniciam as cantigas. Seja pela ancestralidade, pela herança da família, seja pelo pagamento de uma promessa ou simplesmente por gostar da Marujada, aproximadamente 200 pessoas participam da brincadeira. São mulheres, homens, adolescentes, crianças e alguns idosos que se vestem como marujos e carregam seus pandeiros para abrilhantar o cortejo. As roupas brancas ganham contornos vermelhos e detalhes com laços de fita amarrados em várias partes da camisa, enquanto os chapéus são enfeitados com papel crepom e fitas rigor. São adereços que acrescentam um especial colorido a esse grupo.

Paratinga

Eu sou amante guerreiro amante guerreiro, amante guerreiro, combato para vencer, combato para vencer / Eu entrego o meu peito bala o meu peito a bala pela Marinha eu vou morrer.

Na Marujada do Divino Espírito Santo, ​desde 1919, os marinheiros representam histórias variadas das grandes navegações do​s séculos​ XV, XVI ​e XVII​, a chegada dos Portugueses no Brasil, relatos de naufrágios, danças e dramas, combates entre oficiais dentro da embarcação. ​O momento ritualístico da Chegança em Paratinga acontece durante a Festa do Divino Espírito Santo, em junho. Antigos mestres contam que nesse dia, marinheiros que estavam ​à​ deriva em alto-mar chegaram em terra firme. Até hoje, o grupo encena essa “chegança”, levando “seu barco” composto por homens e mulheres pelas ruas da cidade.

Viva, viva, viva o espírito santo que nos trouxe em salva terra embrulhado no seu manto / Todos com prazer em terra saltamos com o favor Espirito Santo nós aqui chegamos / Nós aqui chegamos nesta terra boa e daqui nós não saímos nós viemos de Lisboa.

Com cantos, danças, ao som dos pandeiros e “facões” (simbolizando as espadas) apresentam uma enorme diversidade de cânticos em cenas coreografadas.